Projeto para
aumentar índices de reciclagem no Rio enfrenta dificuldades para sair do papel
Plano previa construção de seis centrais de triagem, mas obra em Bangu
está parada e a de outros três bairros nem começaram
POR MARCO GRILLO E MARIANA ALVIM
26/05/2015 5:00
Obra parada na futura central de Bangu:
sucessivos atrasos - Fernando Lemos / Agência O Globo
RIO — A Central de Triagem (CT) de Irajá, que poderia dar emprego a 200
catadores, tem apenas 25 em atividade — além de receber lixo hospitalar e
material orgânico, resíduos inapropriados para a reciclagem naquele espaço. Na
Zona Portuária, dois vigias da Comlurb se revezam para tomar conta de um galpão
vazio, trancado a cadeado, onde deveria funcionar outra central. Já em Bangu,
catadores se movimentam em uma área improvisada, ao lado de um esqueleto de
construção que deveria ser uma central operada por uma das cooperativas
credenciadas para o serviço. De acordo com o Plano Municipal de Resíduos
Sólidos, seis centrais de triagem seriam inauguradas até 2013, mas as unidades
de Campo Grande, Penha e Jacarepaguá sequer saíram do papel. Um dos itens
previstos no plano é o Programa de Ampliação da Coleta Seletiva, orçado em R$
50 milhões. Mesmo financiado pelo BNDES, o projeto que pretende aumentar os
índices de reciclagem na cidade encontra uma série de dificuldades para
deslanchar.
Quando foi
inaugurada pelo prefeito Eduardo Paes, em janeiro de 2014, a central em Irajá
tinha a previsão de processar 20 toneladas de lixo reciclável. Segundo Evelyn
Brito, presidente da Coopfuturo, cooperativa que atua no local, a unidade
recebe atualmente cinco toneladas deste material — das quais 30% seriam
rejeitadas por conter lixo orgânico ou hospitalar. Na última quarta-feira,
várias seringas foram vistas no local. A Comlurb classificou a presença dos
resíduos inapropriados de “fato isolado".
— A
prefeitura prometeu também nos dar suporte com aquisição de equipamentos, mas
eles estão defasados e sem manutenção. A prensa pesa mais de uma tonelada e é
manual — reclama Evelyn.
Em Bangu, a
obra de construção da Central de Triagem parou de vez no início deste ano. No
galpão abandonado, há paredes, mas não há teto; há dois fossos abertos,
acumulando água parada, mas não há as prometidas esteiras que facilitariam o
trabalho de separação do lixo. Os vergalhões foram ficando enferrujados ao
passo que a a data de inauguração foi sendo adiada — vários prazos foram
descumpridos, e agora a Comlurb estima que a inauguração vai acontecer em
outubro.
— Os
equipamentos prometidos (pela prefeitura) não chegaram. Sem as máquinas, nossa
produtividade cai muito — explica Custódio Silva, um dos líderes da cooperativa
Recicla Mais Zona Oeste.
Eva Barbosa,
outra líder do grupo, conta que os catadores chegaram a ficar em um espaço
menor ainda, alugado pela empresa que era responsável pela construção da CT em
Bangu. Em dezembro, passaram a usar o terreno ao lado da futura central.
— São
espaços inapropriados para o nosso trabalho. Fica todo mundo apertado — afirma.
‘SUPERDIMENSIONAMOS O PROJETO’, AFIRMA SECRETÁRIO
Mais de
quatro anos após a assinatura de contrato com o BNDES — que prevê a construção
de seis centrais de triagem —, a prefeitura acredita que errou no tamanho da
ampliação do programa de coleta seletiva. Segundo o secretário municipal de
Meio Ambiente, Carlos Alberto Muniz, o plano agora é construir apenas três
centrais:
— Acho que superdimensionamos o projeto. Planejamos estas seis unidades
muito no calor do momento, da desativação do aterro de Gramacho (fechado em
2012). Acredito que precisamos de três centrais — afirmou.
A Comlurb
afirma que a proposta original, que prevê a construção de seis centrais,
“permanece no programa”, mas reconhece que não há novas obras em
andamento.
Segundo a companhia, “não há oferta de resíduos que justifiquem as construções
neste momento”.
Orçado em R$
50 milhões, o projeto conta com R$ 22 milhões do BNDES — dos quais R$ 5 milhões
já foram desembolsados, segundo o Portal de Transparência do banco — e R$ 28
milhões de contrapartida da prefeitura. O valor previsto para o município
inclui o repasse de verbas, cessão de terrenos, contratação de garis e outras
ações.
O acordo
firmado com o BNDES é de “concessão de colaboração financeira não
reembolsável”, o que significa que a prefeitura não vai retornar ao banco o
valor investido. O BNDES explica que este tipo de contrato é usado em algumas
linhas de crédito direcionadas para ações que buscam benefícios sociais, como
seria o caso da geração de renda para os catadores. Os repasses são executados
`à medida que a prefeitura apresenta os avanços no cronograma do contrato, que
tem duração de 66 meses e expira em junho do ano que vem.
Em nota, o
BNDES afirmou que acompanha o projeto por meio de contato “permanente” com a
administração municipal. O banco destacou ainda que “a implantação dos projetos
de reciclagem impõe desafios complexos e envolve processo de conscientização,
organização social e educação ambiental para a melhoria da qualidade da coleta
e da seleção dos resíduos sólidos”.
LIXO CONTAMINADO INTEROMPE TRABALHO DE CATADORES
Na semana
passada, a chegada de lixo contaminado paralisou por sete dias o trabalho dos
catadores em Bangu. Na noite de segunda-feira, três caminhões da Comlurb
entraram no terreno da Rua Roque Barbosa. Quando os catadores separavam o lixo
que veio no terceiro veículo, um cheiro forte tomou conta do ambiente. Alguns
deles passaram mal, e a cooperativa decidiu interromper o trabalho. Os
catadores acreditam que algum resíduo químico veio junto com o lixo oriundo da
coleta seletiva. Em nota, a Comlurb ressaltou que a situação é “incomum” e que
tomou “providências técnicas e ambientais imediatas". A Companhia destacou
que os resíduos estão em processo de análise e que “foram adotadas medidas
emergenciais no sentido de preservar a saúde dos catadores e garantir com
segurança a continuidade dos trabalhos”.
— Depois, a
gente precisa recuperar o tempo perdido com calma. Não adianta trabalhar
correndo — conformou-se o catador Deílson Adelino.
Já na
Gamboa, bairro da Zona Portuária, o pedaço da rua por onde deveriam circular os
caminhões da Comlurb em direção à Central de Triagem virou área de
estacionamento para vans. Pela fresta do portão (trancado a cadeado) do terreno
que deveria estar aberto aos catadores, é possível observar o chão de terra
batida e nenhuma máquina. À esquerda, há uma estrutura que começou a ser
erguida e, segundo o vigia, há meses já não recebe mais a visita de nenhum
operário.
— Eu venho
aqui para tomar conta (do terreno), mas ninguém trabalha aqui — admite.
Hoje, apenas 0,7% do lixo coletado diariamente pelo município
é destinado aos 18 núcleos de catadores para a reciclagem — 70 toneladas de um
total de dez mil, segundo dados da Comlurb. Em 2012, o índice era de 0,27%, e a
prefeitura espera chegar a 5% até 2016.
A despeito dos baixos índices de coleta seletiva e dos
atrasos na construção das centrais de triagem, a Comlurb garante que o projeto
está em expansão. Segundo a companhia, desde 2013, o número de bairros
atendidos pelo programa de coleta seletiva subiu de 44 para 113. A quantidade
de garis que atuam exclusivamente no serviço passou de 35 para 120, e o de
caminhões aumentou de sete para 16. A Comlurb diz que já foram gastos R$ 28
milhões, com origem no tesouro municipal e no BNDES, na construção e compra dos
equipamentos das centrais de triagem, na divulgação e na capacitação dos
catadores.
A Comlurb afirmou que o atraso na entrega da CT de Bangu foi
provocado pelo descumprimento dos prazos pela empresa que havia sido
contratada. Em relação à unidade da Zona Portuária, a companhia reconheceu que
houve uma mudança de planos. A central deverá ser transferida para o Caju,
“devido ao planejamento urbanístico da região do Porto Maravilha”. Segundo o
deputado estadual Dr. Sadinoel (PT), presidente da CPI dos Lixões,
representantes da Comlurb e do BNDES serão convocados a prestar esclarecimentos
sobre o programa.
Leia mais sobre esse
assunto em http://oglobo.globo.com/rio/projeto-para-aumentar-indices-de-reciclagem-no-rio-enfrenta-dificuldades-para-sair-do-papel-16261062#ixzz3bLeJaEQk
© 1996 - 2015. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.
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